quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Perspectiva Histórica da Evolução da Comunicação/Educação (Jean Cloutier)


A comunicação, segundo Jean Cloutier, é uma actividade evolutiva porque cumulativa, pois cada novo meio junta-se aos outros e os emergentes não servem para eliminar os já existentes. A comunicação não é um acto isolado e gratuito, mas obedece a determinadas funções de informação, educação, animação e distração. A comunicação é ainda um processo cujos processos são dinâmicos.
Na sua opinião, a história da relação entre o homem e os meios de comunicação pode dividir-se em quatro etapas que se sobrepõem:
1ª Etapa: Comunicação interpessoal _A família;
2ª Etapa: Comunicação de elite _A Escola;
3ª Etapa: Comunicação de massa _A Escola Paralela;
4ª Etapa: Comunicação individual _Auto-Educação.





A primeira etapa, a da “comunicação interpessoal” em que o homem tem no seu corpo o único medium de se expressar através do gesto e da palavra. O homem é ao mesmo tempo homo faber e homo loquens. Nasce a chamada cultura oral em que o principal registo se baseia na memória.
 Posteriormente e ainda neste período, nasce a actividade iconográfica cujos registos chegaram aos nossos dias com as pinturas e gravuras do paleolítico (homo pictor), correspondendo assim a um pensamento simbolizante e abstracto.
 Esta nova competência evoluirá para a escrita. Nesta fase, os ensinamentos processam-se de pai para filho, do mais velho para o mais novo, do patriarca para outros elementos do clã (família). É um ensino acumulativo que, ao contrário dos animais irracionais, evolui e torna-se complexo de acordo com as descobertas de novas técnicas surgidas do manuseamento diário dos materiais. . Os interlocutores tinham que partilhar o mesmo espaço e temporalidade.


A escola instituição só aparece como organização e sistema na segunda etapa denominada a dacomunicação de elite”.
A grande revolução, aqui verificada, dá-se com a utilização da “escrita fonética” que origina a linguagem “scriptovisual”, uma mistura da componente da escrita manuscrita com muita informação visual. Aparece pela primeira vez um medium que é suporte móvel, pois permite vencer a distância no espaço e no tempo – começa por ser a placa da argila, mais tarde surge o manuscrito e a seguir a um longo percurso chegou-se ao papel.


Esta nova forma de comunicação brota em civilizações sedentárias, urbanizadas, com uma economia desenvolvida, principalmente, o sector comercial, de estratificação social evoluída, com necessidade de expansão, possuindo técnicas de marear evoluídas. Os seus povos sentem o imperativo de uma forma de comunicar que seja móvel, que vença o espaço e o tempo, que sirva aos seus propósitos economicistas de comercializar produtos e de produzir matérias primas para satisfação das necessidades básicas das populações.



Esta competência de registo – a escrita - é um conhecimento especializado, com regras que não são acessíveis a todos. Isto leva à formação de uma elite (os escribas) que domina os processos e que vai subindo na estrutura social, dominando-a e hierarquizando as suas estruturas. Constituía-se como um instrumento de poder e controlo das populações, quer por parte do estado, quer por parte das instituições religiosas. Somente na era Iluminista se começaram a desenvolver alguns esforços para que a leitura fizesse parte da escolarização universal, a par da leitura e da matemática. 

A comunicação de elites é uma característica da instituição escola que ainda hoje parece resistir a todas as pressões de mudança e evolução. Profundamente conservadora, a escola mantém como pilar a desigualdade entre o professor e o aluno. Se durante muito tempo as elites sociais mantiveram o poder fazendo uso de uma escola a que só alguns tinham acesso, hoje procuram perpetuar a sua autoridade, condicionando fortemente as possibilidades de sucesso dos outros elementos do colectivo social.

Se o homem conseguiu que a sua mensagem ultrapassasse o espaço e o tempo ao transformar em signos gravados a mensagem, com a invenção da imprensa venceu também a unicidade da sua obra. A amplificação permitirá a multiplicação das suas comunicações. Com o nascimento dos mass media, passa a existir, designada por Cloutier, a comunicação de massa que representa a terceira etapa da  comunicação.
 
Embora a imprensa tenha nascido na China no século II, é Gutemberg no século XV que dá início a este período dominado pelos mass media, que se desenvolve com o iluminismo e a revolução francesa, mas atinge o apogeu na segunda metade do século XIX com o período da comercialização em massa de jornais a um preço reduzido e ao alcance de todos.
A Bíblia foi o primeiro livro que no Ocidente se imprimiu. A data dos primeiros exemplares é de 1456, só dois séculos depois se publicam os primeiros jornais.
As invenções do telégrafo eléctrico (1837 por Samuel Morse) e do telefone (1876 por Graham Bell) consubstanciaram a mobilidade e a rapidez da comunicação envolvendo o mundo numa autêntica teia de informação. Seguiu-se o cinema dos irmãos Lumière em 1895, o rádio por Marconi, em 1896, a televisão, em 1927 pelo russo Zworykin que se consumou nas primeiras emissões regulares em 1936 em Inglaterra e França.
Perfila-se um novo paradigma social, para além da vontade de comunicar, é
necessário ter acesso aos meios. A hegemonia da escola como principal fonte do saber é posta em causa. Surge a denominada escola paralela caracterizada por aquilo a que alguns autores chamam currículo oculto que é o que os alunos aprendem nas suas vivências. Esta nova realidade pressupõe uma alteração no papel da escola tendo em atenção os media.
Esta etapa caracteriza-se pela omnipresença da comunicação universal, a Imprensa, rádio, televisão e outros, são a expressão material da vontade humana de dizer mais a mais gente – são imensas as pesquisas que mostram a influência, nomeadamente da Televisão, na vida da escola, particularmente através dos alunos, mas de forma crescente em todos os outros elementos das diferentes comunidades educativas.
A educação pelos media, com os media e para os media, são novas dimensões que se juntam ao acto educativo. A educação para os media consiste na própria discussão epistemológica dos media, cujo objectivo essencial é tanto o de esclarecer as vantagens e desvantagens, como o de apurar o sentido crítico para a validade das mensagens que veiculam.
A escola paralela desenvolveu, entre outros, dois movimentos:
·         substituição da escola pelas novas tecnologias defendida principalmente por Ivan
·         complementaridade, que defende a educação permanente e a instituição escolar que não pode viver em concorrência com a não escola, mas as duas são complementares.  
A quarta etapa comunicativa, segundo Cloutier, é o da “comunicação individual” e decorre dapossibilidade de ter acesso a mensagens sempre disponíveis e a capacidade de se exprimir sempre que quiser com os self media.
 “Emerec é o ponto de partida e o ponto de chegada da comunicação. Já não é apenas informado, ele próprio informa e se informa: Já não é o estudante que frequenta cursos durante alguns anos da sua vida, é o auto-educando da educação permanente”.  
Este episódio é, de uma maneira geral, simultâneo à comunicação de massas. Alguns dos media que fazem parte deste episódio são: a fotografia, os suportes e equipamentos de gravação de som e imagem, a reprografia, o computador e a Internet.
Para Babin, na mesma linha, a da influência dos self-media na educação, refere que a personalidade dos nossos jovens é caracterizada pela sensibilidade e pela intelectualidade sensitiva. A percepção pelos sentidos é a primeira etapa do conhecimento. Passar desta primeira impressão ao percebido é a tarefa da escola e o papel principal para o professor. A auto-educação é a principal função destes media.
Neste modelo o professor ganha mais espaço para exercer uma função mais formativa.
Um novo paradigma educacional surge o saber é um projecto em construção

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